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Objetivos e aptidões do líder

Existe uma pergunta que deveríamos fazer a todos aqueles que estão em cargos de direção: “O que você está fazendo para que o mundo seja um lugar melhor?”. Mudar o mundo é uma utopia, diriam alguns. Mas isso está bem longe de ser verdade. Todos nós temos a capacidade de modificá-lo em alguma dimensão, basta querer e trabalhar duro para isto.

Albert Einstein, físico teórico alemão, mudou o mundo quando desenvolveu a Teoria da Relatividade. O grande compositor alemão Ludwig van Beethoven também promoveu mudanças significativas ao criar a sua quinta sinfonia. Os operários que trabalharam arduamente para construir as pirâmides do Egito ajudaram a mudar o mundo. Não foi somente Neil Armstrong que provocou grandes transformações no cenário mundial ao pisar na lua, mas as centenas de pessoas que trabalharam anos a fio para construir o projeto Apolo.

“Para ser um líder, você tem que fazer as pessoas quererem te seguir, e ninguém quer seguir alguém que não sabe onde está indo”

Nelson Mandela

Não estamos apenas de passagem neste mundo. Tampouco devemos nos considerar ilustres visitantes. Cada um de nós está aqui para cumprir uma missão específica: trabalhar para tornar o mundo um lugar melhor para os nossos descendentes. Felizmente, esta é uma verdade inequívoca para a grande maioria das pessoas. E é exatamente nesse contexto que se consubstancia a figura do líder visionário.Um líder é tão grande quanto a grandeza da visão que ele é capaz de criar. a visão que constrói uma organização é a mesma que alimenta o espírito de seus colaboradores ou, mais concretamente falando, é aquela que cria significados para todos

Em busca da conquista

No mundo pessoal, assim como no organizacional, as pessoas querem cumprir sua missão e, para tanto, querem ver o resultado do trabalho que realizam. Engana-se quem acredita que o homem só trabalha por dinheiro. Embora ganhar dinheiro possa ser uma consequência importante do trabalho, muito mais do que isso, o homem trabalha para construir algo. No fundo do peito, todos anseiam por deixar um legado, alguma coisa especial que ficará para as próximas gerações. E, somente quando as pessoas compreendem que o trabalho que estão executando está contribuindo para a construção desse legado, é que elas sentem que há significado em suas vidas, uma vez que não há como separar a vida no trabalho do resto da vida.

C. K. Prahalad e Gary Hamel, dois dos maiores nomes do management internacional, são primorosos ao discorrerem sobre esse assunto: “Todos os funcionários têm o direito de achar que estão contribuindo para a construçãode um legado – algo de valor maior e mais duradouro do que qualquer coisa que uma pessoa possa realizar sozinha. E o apelo à emoção e ao intelecto precisa se basear em outras coisas além da perspectiva de ganho financeiro pessoal”.

Guy Kawasaki, especialista em tecnologia, que atuou como evangelista da Apple, reforça esse pensamento ao afirmar: “Algumas empresas colocam seu foco apenas em ganhar dinheiro e, com o tempo, fracassam. Os empresários deveriam se preocupar em fazer algo que vá mudar o mundo, que dê significado à vida das pessoas, aí o sucesso financeiro certamente será uma consequência”. A função do líder nesse contexto é determinante. Além das tarefas básicas, voltadas à sustentabilidade da organização, ele deve exercer uma função muito mais nobre e relevante: reunir os vários talentos de que dispõe a sua volta e idealizar os caminhos que irão levá-los a suprir as necessidades da sociedade. Mas seus esforços não param por aí, precisam ir adiante. Deve mostrar a importância que cada pessoa tem no contexto geral e, principalmente, como a participação de cada um contribuiu para a construção do resultado final.Dar um propósito para a vida das pessoas é, portanto, uma de suas maiores responsabilidades.

Idealizando sonhos

Líderes visionários conhecem bem a força dos sonhos. Victor Hugo, renomado poeta e dramaturgo francês, foi provavelmente uma das pessoas que melhor retratou a importância dos sonhos ao afirmar: “Não há nada como um sonho para criar o futuro”. O líder visionário sabe expressá-lo construindo uma visão de futuro consistente do que deseja alcançar. Mas para contar com o comprometimento de toda a organização, precisa criá-la à luz dos sonhos e das esperanças de todos. Se não estiver focado na criação de uma visão compartilhada, ele acabará construindo uma visão apenas para si, portanto pouco inspiradora e que, consequentemente, não terá a adesão da maioria.

Criar uma visão de futuro não é, certamente, uma tarefa fácil. As pessoas não irão seguir alguém que lhes aponta um caminho duvidoso, sem muita relevância ou, ainda, que só oferece benefícios para uma minoria privilegiada. A construção da visão requer inspiração, ética e, sobretudo, significado compartilhado. As pessoas precisam olhar e dizer: “Uau! vale a pena lutar por ela”, ou ainda, “quero estar aqui quando essa visão for alcançada”. As pessoas são capazes de dar respostas espetaculares quando descobrem na visão criada pelo líder uma razão para o que fazem. Indubitavelmente, quando sentem que seu trabalho contribui para algo maior, elas crescem em energia, perseverança e criatividade.

A visão de futuro representa o “norte”, no sentido de ser o caminho para onde a organização deve caminhar. Em regra, ela aponta a direção do “porto seguro”, o local para onde todos devem remar o barco. Mas, além disso, deve refletir claramente os “benefícios” que todos terão a partir de sua conquista. Deve ser tão especial, tão apaixonante, que em certos momentos temos a sensação de que é “mágica”. Precisa ter o dom de mostrar para as pessoas que é exatamente na busca pelo seu alcance que todos estarão efetivamente construindo o legado de que falamos há pouco. Em síntese, é ela que, por sua grandeza, vai atribuir significado à vida das pessoas. Criá-la, desta forma, é uma responsabilidade dos líderes visionários.

Ações vindouras

Cabe ressaltar, no entanto, que o líder pode gerar novas perspectivas para as pessoas por meio da criação da visão de futuro, mas elas só se tornarão realmente relevantes após fundir-se ao DNA corporativo ou, mais precisamente falando, quando este estiver no sangue das pessoas, agindo com princípio orientador. Um líder é tão grande quanto a grandeza da visão que ele é capaz de criar, mas não podemos esquecer que essa visão jamais poderá ser instituída por “decreto” ou “atos de coerção”. As pessoas não irão seguir um caminho, pelo menos não com o coração, apenas por imposição. A visão que constrói uma organização é a mesma que alimenta o espírito de seus colaboradores ou, mais concretamente falando, é aquela que cria significados para todos.

Na década de 1960, o mundo se dividia entre duas grandes potências. Do lado ocidental, os Estados Unidos da América e do oriental, a antiga União Soviética. Era a época da chamada “guerra fria”, um combate travado entre as duas superpotências, notadamente muito mais no campo diplomático do que no campo de batalha. Um dos fatos marcantes desse período foi a corrida espacial. Acreditava-se, naquele momento, que o domínio do espaço sideral daria, à nação dominante, a hegemonia mundial. E os soviéticos estavam à frente. Foram eles que lançaram a primeira nave espacial não tripulada, o Sputnik. Também foram precursores em colocar um homem no espaço. No início de 1961, a bordo do Vostok I, o cosmonauta russo Yuri Gagarin deu uma volta completa em torno da terra a uma altitude de 315 quilômetros. Tudo indicava, portanto, que os soviéticos ganhariam a grande corrida.

John Fitzgerald Kennedy acabava de assumir o comando dos Estados Unidos. Sabia que era necessário ganhar o embate, mas estava ciente de que apenas com esforços isolados não haveria qualquer chance. No entanto, na função de líder maior da nação americana, tinha convicção de que poderia e deveria cooptar o povo americano a ir à luta. E foi exatamente isso que ele fez. Em um discurso eletrizante proferido em uma sessão conjunta do Congresso e do Senado em maio de 1961, ele construiu uma visão que veio a se tornar uma das mais poderosas armas da nação americana. Disse ele: “Eu acredito que a nação deva se comprometer para alcançar o objetivo, antes do fim da década, de aterrissar o homem na lua e fazê-lo voltar em segurança para a Terra”.

Essa visão inspiradora mobilizou toda a sociedade americana em prol da grande conquista. Cada cidadão, a seu modo, trabalhou para “colocar o homem na lua”. Não fizeram isso apenas para experimentar o gosto da vitória, mas porque haviam entendido perfeitamente bem o significado que aquela visão tinha para suas vidas. O resultado final dessa história, todos conhecem. Em 20 de julho de 1969, quase seis anos após a morte de Kennedy, o Programa da Apollo 11 conquistou seu objetivo e finalmente um homem pisou na lua.

Fazendo a diferença

A história da corrida espacial nos dá uma excelente mostra de quão importante é o papel do líder na criação de significados. Ken Blanchard e Jesse Stoner, dois especialistas nesse assunto, reforçam ainda mais essa importância ao afirmarem: “Quando as pessoas compartilham uma visão e acreditam nela, geram energia, entusiasmo e paixão. Percebem que fazem a diferença. Constroem uma reputação sólida por excelentes produtos e serviços. Sabem o que estão fazendo e por quê. Existe um forte sentimento de confiança e respeito. Nenhum gerente precisa controlar. Eles deixam que cada um assuma sua responsabilidade, porque sabem que todos compartilham da mesma visão e conhecem bem as metas e a direção a seguir. As pessoas têm o poder de tomar decisões importantes. Não precisam submeter tudo à equipe da alta administração. Todos são responsáveis por seus atos. Todos cuidam do futuro, em vez de ficar passivamente esperando que aconteça. Existe espaço para a criatividade. Cada um pode dar sua contribuição a seu modo, e as diferenças são respeitadas, porque todos sabem que estão no mesmo barco”.

Momento de reflexão

• Você consegue definir claramente os seus sonhos? Você acredita que o “norte”do seu negócio está bem definido em seus sonhos? • Você se preocupa em contemplar seus liderados na idealização dos seus sonhos? • Até que ponto seus liderados conhecem e compartilham dos seus sonhos? Observação: se você quer ser um líder visionário, não acredite que você sabe tudo. Provoque uma conversa franca e liberta com seus liderados para identificar e compreender os seus sonhos.

Chegamos, então, à conclusão de que os líderes visionários precisam, em primeiro lugar, saber para onde devem ir, o que em outros termos corresponde à idealização de um sonho e, a partir dele, à arquitetura de uma visão de futuro inspiradora que cria propósitos de vida para todas as pessoas que dela se apropriam. Mas não é só isso. Há um ponto de fundamental importância que ainda precisa ser discutido: os propósitos que movem um líder.

Infelizmente, a capacidade de criar visões inspiradoras de um líder não é garantia de sua retidão. Líderes visionários precisam ser orientados por valores justos e consistentes e precisam praticá-los todos os dias. Os valores de um líder devem nortear suas ações, delimitando seus espaços e campos de atuação, porque, no final das contas, são esses valores que irão sedimentar seu propósito. E um líder só é “verdadeiro” quando é movido por propósitos virtuosos. Seu comportamento tem de estar rigorosamente dentro de uma ética que seja socialmente aceita.

A história da humanidade está repleta de líderes inspiradores, a exemplo de Hitler ou Stalin, mestres na arte de mobilizar as pessoas em prol de seus ideais, que são condenáveis pelas práticas atrozes e, principalmente, desumanas que utilizaram na concretização de seus sonhos. A diferença desses líderes para aqueles que julgamos “íntegros” está na natureza dos propósitos.

Os líderes virtuosos não buscam concretizar a visão a qualquer custo. Ao contrário, lutam incansavelmente para diminuir o sofrimento das pessoas. Fazem da justiça e da igualdade seu principal pilar de sustentação. Não aceitam agir de forma aética até mesmo porque o que lhes causa satisfação é ver a satisfação estampada no rosto das outras pessoas. Os líderes “bons” são aqueles que lutam para disseminar o direito e a equidade entre todas as pessoas. São esses atributos que os tornam unânimes e, consequentemente, eternos.

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